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sábado, 28 de maio de 2011

Tentando não emburrecer

Semana passada eu não postei nada aqui no blog. Mas assisti ao filme “O Leitor”, o que me leva a um post dobrado, feito tapioca. Lá vai.

Na Alemanha pós-guerra, um jovem estudante tem um relacionamento com uma ex-carcereira nazista, Hanna. Ela é analfabeta, ele lê para ela, que se emociona com os textos. Mais tarde Hanna é condenada, por um tribunal de guerra, à prisão perpétua, por um crime cometido contra prisioneiras de Auschwitz. Poderia ter pego quatro anos mas foi pegou pena máxima porque assumiu a autoria de um relatório sobre o incidente que ela, analfabeta, não poderia ter preenchido. Ela, entretanto, preferiu assumir o relatório a admitir o analfabetismo.

O filme me fez pensar: quando não fomos expostos ao conhecimento não temos responsabilidade sobre ele. Mas quando você passa, por exemplo, por uma faculdade e sai do mesmo jeito que entrou – não aprendeu nada, empurrou com a barriga – você “emburreceu” voluntariamente - mesmo sendo inteligente. Antes você não sabia por que não tinha acesso ao conhecimento. Agora você não sabe por que não conseguiu (ou pior, não quis) absorver o conhecimento ao qual esteve exposto. E não foi uma exposição aleatória, você passou anos submetido a um sistema de ensino com métodos, técnicas e avaliações. O jeito é fingir que sabe, como Hanna, mesmo que isso lhe custe caro. Mas nunca é cedo nem nunca é tarde para o aprendizado. Vejamos:

Quem estuda sistemas de informação – numa graduação, num curso profissionalizante ou numa disciplina em outro curso, logo aprende o caminho progressivo da informação. Este conceito é indispensável para nós que vivemos a chamada era ou sociedade do conhecimento.
Tudo começa com o dado, aquela partícula bruta e sem significado. Depois vem a informação, um conjunto de dados que, submetido a determinada situação, ganha significado e contexto.  Sim, porque mesmo uma montanha recheada de toneladas de dados, se estes não forem cimentados com significado e assentados sobre um contexto, não passará de uma montanha, apenas.

A informação, então, pode ser comparada a um átomo, composto de seus elétrons, íons, nêutrons e outras partículas que surpreendem os cientistas ao serem descobertas. Tais partículas só fazem algum sentido funcional quando, juntas, constituem o todo, o átomo.

Agora sim, passa-se ao conhecimento. Davenport afirma que o conhecimento é a informação com valor agregado, porque, segundo ele, à informação foi adicionada uma interpretação, uma ligação com o contexto sobre a qual ela foi assentada. Quando as pessoas processam a informação à qual foram expostas, quando usam informação para processar informação, pensam, raciocinam e devolvem esta informação enriquecida, pronto, produziram conhecimento.

O conhecimento é intrínseco ao indivíduo. Mas é também objeto de domínio comum, público. Foi produzido e está aí, à disposição, como o oxigênio no ar. Ocorre que, como o pulmão desempenha um processo fisiológico para extrair o oxigênio do ar, o conhecimento precisa ser garimpado, extraído do mar de dados e informações existentes nos diversos meios – papel, internet, televisão, rádio, fala, gestos, sinais, etc.

O conhecimento adquirido não pode ser tomado de volta. Um ladrão leva seu celular, seu notebook cheio de informações, mas não pode tomar o que você aprendeu. Isso você pode passar adiante, pode ser doado, mas não tomado. Ou morre com você ou se perde em caso de algum evento que danifique seu sistema cerebral – amnésia, acidente vascular, traumatismo, coisas da ordem.

Pulando a complexidade dos processos de transformação de dado em informação, desta em conhecimento e deste em ciência, podemos dizer que a ciência é a sistematização do conhecimento. Alguém escreveu no Wikipedia que ciência é um sistema de aquisição de conhecimento através de um método. É a forma racional, sistemática de se produzir conhecimento, através de processos cognitivos e sociais.

Hã, sei, mas, para quê toda essa conversa? Para que sejamos racionais, sistemáticos, metódicos e perspicazes na produção do nosso conhecimento, para que, quem sabe, possamos produzir também ciência. O tempo é muito curto e o volume de dados, informações, conhecimento e ciência já produzidos a e se produzir é infinito. É um conceito econômico, as necessidades humanas são infinitas enquanto os recursos são escassos. Claro, ninguém vai ser tão caxias, tão chato ao ponto de só pensar “naquilo”. Mas até do ócio se pode tirar algum aprendizado.

Enquanto crianças como uma finalista do “Soletrando” do “Caldeirão do Huck” caminham dezenas de quilômetros para tomarem aula em escolas precárias no sertão nordestino, nós que temos acesso a tanta informação não podemos desdenhar deste acesso e deixar o conhecimento relegado a um segundo, terceiro plano. É como ser saudável e escarnecer de quem é portador de alguma necessidade especial.

Então, quando estivermos numa sala de aula, numa palestra, com um livro na mão, uma revista, assistindo a novela, o futebol, dirigindo ou apenas sentado esperando a vez de aplicar flúor no dente, não deixemos de observar. De medir, analisar, inquirir, questionar. Não deixemos de prestar atenção, de ler, de criticar, de torcer, mas com um olhar clínico, de procurar entender o que os dados que estão na nossa frente nos dizem? Que informações são relevantes e quais são descartáveis? Como adquirir conhecimento necessário para meu próximo movimento, minha próxima ação? Como fazer ciência, como inovar, como encarar meu próximo desafio?

Criemos para nós mesmos metas de eficiência na produção de conhecimento, seja ele técnico, profissional, familiar, espiritual, musical, não importa. O que importa é o seguinte: não existe sorte, o que existe é o encontro da competência com a oportunidade. E para reconhecer uma oportunidade quando ela aparecer, só achismo não serve. "Eu acho queeee" é bordão de jogador de futebol.  E como dizia um professor meu, “achologia” não é ciência. É necessário conhecimento.

domingo, 15 de maio de 2011



Desmistificando a motivação no trabalho

Dizem que política, religião e futebol são três coisas que não dá para discutir, porque são assuntos polêmicos. Outro dia um conhecido meu disse que motivação é um tema candidato à lista de polêmicos. Discordo. Motivação é coisa simples de entender, mas não sem antes quebrar alguns paradigmas, ou pelo menos, compreendê-los. Especialmente no trabalho.
Um paradigma é o da velha dicotomia entre “como motivar pessoas” e “ninguém motiva ninguém”. A segunda afirmativa é fato. Outro dia, ministrei uma pequena palestra a respeito - para uns colegas de trabalho e um deles demorou a distinguir influência, inspiração de motivação. Na conversa que se seguiu, descobrimos uma maneira fácil de distingui-las:

Motivação é uma força interna resultante de quatro elementos: um alvo (motivo), uma quantidade esforço necessário, certo grau de disposição para o esforço e, muita, muita persistência. Nenhum destes elementos depende de outra pessoa. Você fixa seu alvo, você calcula o preço a pagar, decide se vai pagar este preço e dedica-se a ele com a determinação que julga adequada. É a ação levada a cabo por um motivo.

Influência (do latim influentia, influere) remete à ideia de algo que flui para dentro,não forçado, naturalmente. Sem que percebamos, hábitos, palavras, atitudes de outras pessoas afetam nossos próprios hábitos. Um amigo, um parente, um professor podem causar boas e más influências pelo tempo e pelo tipo de convivência.

Inspiração (do latim inspirare), segundo os dicionários, é buscar ar para os pulmões. Nesse caso buscamos naqueles hábitos, palavras ou atitudes dos outros um referencial para nós. Geralmente buscamos inspiração em alguém que admiramos. Ou nos inspiramos em pessoas que têm motivação similar à nossa.

Outro paradigma a ser quebrado sobre motivação no trabalho é o do salário como fator motivador. É comum as pessoas pensarem que salário “motiva até certo ponto”. Discordo. Salário não é fator motivador. É fator de satisfação. Quebrar esse paradigma requer um esforço mental mais complexo. Vamos a ele.

Interpreto fator motivador, a partir de Maslow, como aquilo que faz com que o indivíduo continue dedicando a ele esforço persistente mesmo que já tenha suas necessidades básicas satisfeitas, ou mesmo quando alcançar o fator motivador (o alvo) não satisfaz suas necessidades básicas: realizar algo nobre, vencer uma competição, salvar uma vida, etc. Fator de satisfação, por outro lado, é aquele que atende às necessidades básicas mais imediatas, pelas quais o sacrifício é condição de sobrevivência: comer, vestir, morar, etc.

É claro que precisamos de salário para satisfazer nossas necessidades, sejam elas básicas ou supérfluas. É claro que quando atingimos nosso alvo, quanto temos sucesso profissional, podemos até ganhar dinheiro. É claro que não dá para trabalhar de graça. É óbvio que qualidade de vida e conforto não caem do céu, precisa de dinheiro para comprá-los. O que eu quero demonstrar é que o salário satisfaz, mas não motiva, e tenho provas. Vejamos:

1-       Dez vendedores têm o mesmo salário, as mesmas condições de trabalho e a mesma comissão. Logo, sendo salário um fator motivador, porque uns vendem mais e outros menos? Porque as motivações são diferentes. Os ganhos pecuniários são consequência.

2-       Parlamentares são, de longe, os trabalhadores mais bem remunerados. Ganham muito, trabalham pouco, a maioria não tem qualificação técnica, o comprometimento com o trabalho é baixo, a carga horária é ínfima, os benefícios e regalias são imensos. Mesmo assim eles não se cansam de aumentarem o próprio salário. Porque não estão lá motivados por salários, suas motivações são outras.

3-       Professores são, na proporção inversa, os que tem pior remuneração. Estudam muito, dão aula, aturam todo tipo de aluno, corrigem provas, elaboram planos de aula e mesmo assim tem salários baixíssimos, se comparados aos políticos. Entretanto, vemos professores extremamente dedicados, que inspiram e influenciam alunos, dando verdadeiros shows em sala, enquanto outros beiram a estupidez total. O que faz um professor que ganha pouco fazer de cada aula um espetáculo? Certamente não é o salário. A motivação dele é outra.

Para ficar só nisso, teríamos os bombeiros, os policiais, o trabalho voluntário, as enfermeiras, os cientistas, gente que se mete em atividades críticas, insalubres ou de risco, abrem mão do convívio social, e, contrariando o paradigma de que salário é fator motivador (parcial ou integralmente), não ganham rios de dinheiro mas são felizes, realizados, contentes com sua missão no mundo.

Existe uma linha tênue que divide o fator motivacional do fator de satisfação. E a satisfação está abaixo da linha, abaixo da motivação. Primeiro você satisfaz suas necessidades, depois corre atrás do que lhe motiva. Salário não motiva porque não consegue nem satisfazer plenamente as nossas necessidades (mostre-me alguém 100% satisfeito com seu próprio salário). Exceções existem, mas as pessoas motivadas apenas pelo dinheiro são infelizes, algo mesquinhas, vivem para acumular, não para realizar.

Ah, chegou aonde eu queria. O terceiro paradigma: a felicidade. O que realmente nos motiva, o que produz a ambição necessária para enfrentarmos os obstáculos e chegar lá, o que nos faz ser diferentes, encontrar nossa “vocação”, envidar esforços, persistir tenazmente, é a felicidade.

Eu acredito que qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa. Também acredito que qualquer pessoa pode desenvolver qualquer talento, exceção para algumas raras limitações físicas. Quem duvida deve lembrar que Einstein era péssimo em matemática quando criança; Beethoven perdeu a audição progressivamente até os 26 anos, e mesmo surdo compôs obras universais; Davi era franzino e delicado demais para o padrão masculino da época, mesmo assim reinou em Israel no lugar de Saul, um brutamontes, convenhamos, com mais eficácia administrativa.
O que, então, nos move? O que faz alguém trabalhar até o esgotamento sem sentir cansaço nem se render ao obstáculo? A felicidade. Quem é feliz no que faz se especializa tanto, treina tanto, erra e acerta tanto que vira expert. Quem descobre isso, descobre e desenvolve seus próprios talentos, vocações, dons e tudo o mais que é necessário para ser excelente no que faz, manter-se motivado, realizar-se e ser feliz.

E o contrário? Quem não é feliz naquilo que faz não rende. Adoece; é, no máximo, medíocre, ou menos que isso; desiste fácil; sofre, e, naturalmente, não tem motivação alguma no que faz, porque o que faz não o motiva. E não adianta ganhar bem: o sujeito sai de casa como um condenado sai para a forca. Compra tudo o que o dinheiro permite, mas continua infeliz. Jesus Cristo dizia que onde “está o teu tesouro, ali estará o teu coração”. Paixão, tesão, garra, dedicação, são palavras relacionadas a esportistas, exemplos simples de motivação (alvo, preço, esforço e persistência). É isso que uma pessoa motivada tem, mesmo sendo um sedentário como eu.

Então uma pessoa motivada não depende de ninguém para encontrar sua felicidade. Claro que precisamos dos outros, a felicidade não é uma coisa mesquinha, individualista, mas o caminho é uma luta individual. Uma pessoa motivada pode ser influenciada por outra para encontrar seu caminho; pode se inspirar em outras para aprimorar-se em busca dos seus objetivos. Mas o objetivo dessa conversa toda é desmistificar essa confusão toda que se faz quando o assunto é motivação.

Um líder precisa saber diferenciar motivação, influência e inspiração, para poder influenciar e inspirar no momento certo; não desperdiçar energia tentando motivar seus liderados, porque isto ele jamais conseguirá. E principalmente, não desperdiçar dinheiro da empresa tentando motivar sua equipe com salários. Calma: não sou contra aumentar salário, eu também sou assalariado. Apenas entendo que isto deve ficar por conta da política salarial da empresa. Descubra o que motiva as pessoas, influencie, inspire e alcançará seus objetivos pessoais, de equipe e corporativos. Todos serão felizes para sempre e talvez, de quebra, ainda consigamos salvar o mundo.

domingo, 8 de maio de 2011


O QUE SERÁ DO TRÂNSITO NA PARAÍBA?

"Os números são estimativas, mas demonstram que os motoristas paraibanos não estão respeitando as leis de trânsito como devem para garantir a segurança da população. Para se ter uma idéia, nos cinco primeiros meses de 2007 foram 1.091 acidentes registrados nas BRs do Estado, já no mesmo período desse ano, já contabilizamos 1.529 ocorrências. Infelizmente, a tendência é que esses tristes números aumentem ainda mais. ' pior é que as estimativas para esse ano é que o número de acidentes provocados por motoristas embriagados supere os 50% do número total de ocorrências". Texto de Alessandra Bernardo, do Portal CORREIO 

Em menos de um ano, dois escândalos envolvendo o Detran da Paraíba levou-me, paraibano, a analisar o comportamento dos meus conterrâneos ao volante. Sobretudo pela quantidade de postes que tem sido atropelados ultimamente na Capital, João Pessoa. E olhe que estes postes não atravessam rua...

“Mulher no volante, perigo constante”. Mentira. Paraibano no volante (ou habilitado na PB) é que representa perigo no trânsito.

O paraibano não sabe dirigir. Está entre os piores motoristas das capitais do Brasil. Os motoristas do interior não deixam por menos. Os taxistas e condutores de ônibus e caminhões são os piores, pois cometem barbaridades impensáveis para quem se diz profissional. Em qualquer outro ramo, um profissional é quem faz melhor que um amador. No trânsito paraibano, isso é algo ininteligível. Não precisa fazer pesquisa nem ler o jornal. Basta sair nas ruas para constatar o seguinte:

O paraibano não sabe para que servem as setas do carro (aquelas lanternas laranjas que piscam quando acionadas pela alavanca esquerda perto do volante). São quatro ou cinco tipos de piscanalfabetos:

1.     O que pisca antes: quando vai entrar daqui há três ruas, ele começa a piscar. Quem estiver nas ruas anteriores pode bater, porque confia que ele vai entrar nesta. É assim que funciona, usa-se o pisca quando se aproxima da rua em que se vai entrar, para o outro motorista saber, não é para adivinhar.

2.     O que jamais pisca: desconhecendo a utilidade das setas, ele vê você querendo entrar na principal, poderia piscar para você sair, mas não aciona a seta. Você só descobre depois que ele entra na rua.

3.     O que anda o tempo todo com a seta ligada: ele deve achar bonitinha aquela luz no painel piscando com barulho de tic-tac. E tem o que adora andar com o pisca-alerta ligado.

4.     O que pisca depois que entrou: ele vem, entra, e, no meio da curva, lembra de acionar a seta.

5.     O que pisca para um lado e entra para o outro: esse é um criminoso. Ele mente para você, dizendo que vai para lá, mas vem para cá. Você mete o carro e acaba se acidentando. Eu disse quatro, mas relacionei cinco. 

O paraibano não sabe a diferença entre faixa lenta e faixa rápida: vou explicar: numa faixa dupla (não é mão dupla), a direita é para quem vai a velocidade mediana. A faixa da esquerda é para ultrapassar. O paraibano anda na faixa rápida em velocidade menor que a determinada e não sai de jeito nenhum, pode quebrar o corta-luz, ele não entende do que se trata. Se buzinar, ele dá dedo, olha!

O paraibano não sabe entrar em uma via de velocidade maior que a ruela da qual ele está saindo: ele entra na sua frente, mas não acelera. Você e mais vinte carros vem a 60 km por hora. Ele entra a 20 km, poderia bem acelerar para todo mundo manter o ritmo. Mas pode provocar um acidente, mantendo os 20 km que ele trafegava na ruazinha calçada da casa dele. Não adianta se estressar. É pior.

O paraibano não entende a lógica da sinalização de velocidade. Ele acha que pode rodar a 60 km por hora, porque a placa diz que 80 km é o limite (60 é menor que 80). Ele não sabe que andar com velocidade 20% abaixo da permitida é tão perigoso e proibido quando ultrapassar este limite. Tem ainda os que andam colados, seja qual for a velocidade. Freou um, pei, pou, engavetamento. Mesmo princípio: freia aqui, só pára lá na frente.

O paraibano desconhece o significado da sinalização. Ele não sabe que em faixa contínua não se ultrapassa, porque não consegue ler a mensagem: não ultrapasse, aqui é perigoso; ele não sabe que se vem de uma via secundária, deve dar preferência a quem vem na principal, em velocidade superior. Não adianta colocar aquele triângulo vermelho invertido, ele associa à genitália feminina, mas não sabe que é indicação de dar a preferência; ele não consegue entender a faixa de pedestre nem a placa de indicação de passagem de pedestre; desconhece o motivo de se colocarem placas de retorno proibido, estacionamento proibido, e mais ainda, aquela de proibido parar e estacionar. Ele pensa que é proibido estacionar em cima de outro carro. Quem fez prova escrita viu o sofrimento.

Falando no triângulo, o paraibano não sabe para que serve o triângulo do carro. O carro quebra, ele talvez ligue o alerta. Ou não tem um, ou não sabe que tem, ou sabe que tem, mas não sabe a utilidade. Quando muito, um terceiro vem e coloca um galho de árvore atrás do carro para avisar aos outros motoristas.

O paraibano não sabe para quê reduzir a velocidade em cruzamento ou “girador” de rodovia. Existe uma lei da física que faz o carro que está em curva capotar se ele frear brusco. Além disso, se os motoristas do contorno frearem, o trânsito para. Por isso é que se dá a preferência a quem está fazendo o contorno. O motorista made in PB não sabe disso, de modo que não respeita quem vem no “girador”. E se ele vem no girador, pára e dá a vez a quem está na via.

O paraibano não sabe dirigir ônibus. Nem caminhão. Ele não respeita qualquer outro veículo ou pedestre. Porque jamais leu a regra de ouro do trânsito, onde o condutor do veículo maior é responsável pela segurança do menor. O taxista anda devagar para aumentar o valor da corrida. Deixa quieto.

O motorista paraibano acredita no ditado “o que o olho não vê o coração não sente”. Ele sabe que está errado, que você pode bater nele, mas mesmo assim arrisca, mete a venta e olha para o outro lado, para não ver. Como se pensasse assim “se eu não olhar, não vai acontecer”.

O motorista paraibano não tem noção de perigo: nas cidades do interior é comum criança de seis, sete anos no colo do pai, “dirigindo” na área urbana. Cinto de segurança só na Capital. E na Capital também tem outro criminoso do trânsito: o motoqueiro que leva mulher e filho na moto. Ou o que, no bairro mesmo, bota a criança na frente e sai sem capacete a velocidades muito baixas (maior risco de tombo). Que chances tem uma criança numa queda de moto ou numa batida frontal a 40 km por hora, no colo do pai, sem cinto? O paraibano nem sonha...

O paraibano não compreende as mudanças causadas pela chuva. Ele não sabe que a água tira o óleo do asfalto e reduz o atrito. Aquaplanagem? É esporte? Continua dirigindo como se fosse dia de sol. É a síndrome de Senna: todo mundo acha que é o herói da chuva, porque Galvão Bueno inventou essa mentira, de que Senna era melhor na chuva. Ele poderia ser melhor que os outros, mas isso não mudava as leis da natureza. É como dizer que dirige melhor bêbado do que sóbrio: idiotice sem tamanho. E temos provas: todo dia de chuva os acidentes aumentam consideravelmente, e as causas são tão imbecis quanto os envolvidos: imperícia.

O paraibano não sabe como agir num acidente. Mesmo quando ele não tem nada a ver com o ocorrido. Diminui a velocidade em rodovia, só pelo prazer mórbido de ver a desgraça alheia. Acaba se acidentando também. E não abre caminho para ambulância. Ele acha que a sirena é só para a gente saber que tem alguém se lascando.

O paraibano ignora completamente a utlidade da buzina. Ele usa para tudo menos para o essencial, avisar ao outro do risco provável, ou chamar atenção para este risco. Quem ainda não gritou “quer vender a buzina?”

O motorista paraibano não sabe nem ser pedestre. Avança na rua movimentada aos poucos, arriscando ser atropelado. Ele desconhece a lei da inércia: pensa que um carro a 60 km por hora, pára exatamente onde o motorista frear e não sabe que o carro vem derrapando por mais de 40 metros. Reclama pela falta de passarela em rodovia, mas quando ela está pronta, ele não usa. Abre a porta do lado da via, correndo risco de ser atropelado e causar acidente a outros.

E ainda tem uma outra espécie de imbecil do volante. O que enche o carro de som, e anda com o volume máximo, ele dentro sem poder nem pensar direito, consumindo o finito aparelho auditivo (o som do carro não tem fim, o ouvido sim). Ou o famoso abre-a-mala-e-solta-o-som. Até dono de boteco escreve na parede, perto do tradicional “ambiente familiar”: proibido som de carro. 

Fazer o quê cidadão?, pergunta Bel do Chiclete... Se até Jesus Cristo avisou que se conhece a árvore é pelos frutos. Uma pé-de-pau com jacas nascendo no tronco não é uma mangueira. O motorista é assim porque foi ensinado assim. E foi testado assim. Mas onde mesmo é que essa fruta nasce? Nas auto-escolas. Que nível. E onde mesmo ele é testado? No Detran-PB. Precisa dizer mais nada?

Este paraibano somos todos nós.


domingo, 1 de maio de 2011

No ramo de negócios onde trabalho, de serviços de recuperação de créditos em massa, estamos saindo de um cenário de cobrança onde volume de recebimento sempre foi o diferencial, para outro onde os grandes clientes ranqueiam e comparam os escritórios de cobrança, auditam a qualidade do serviço prestado e ainda (obviamente) exigem volumes de recebimento crescentes. Não basta apenas receber em quantidade, é preciso atender às exigências qualitativas e estar entre os primeiros dos rankings se quisermos manter ou aumentar nossa fatia de mercado.
Para não ficarmos ultrapassados em relação aos concorrentes (o que representa risco de perda da tal fatia), precisamos mudar nossa forma de leitura do cenário atual, mudar nossas estratégias e processos de trabalho, bem como o relacionamento com os recursos disponíveis, sejam eles tecnológicos, financeiros, humanos ou informacionais. Para auxiliar na reflexão sobre esse novo momento da cobrança massificada, vejamos o que diz Thomas H. Davenport sobre o pensamento e a atitude analítica na administração.
"As organizações não utilizam a análise apenas porque podem – os negócios de hoje estão repletos de dados – mas também porque devem competir usando essa técnica. Em uma época em que as empresas de muitos setores oferecem produtos semelhantes e utilizam tecnologias comparáveis, os processos de negócios estão entre os poucos pontos de diferenciação que ainda restam.
As empresas que utilizam a análise extraem a última gota de valor desses processos.
Competir por meio da análise requer tecnologia. Organizações de alta performance operam no limite da fronteira da Tecnologia da Informação. Mas a análise levada a sério exige pelo menos uma estratégia de dados, um software de business intelligence e hardware capaz de tratar grandes quantidades de dados, além de pessoas analíticas.
Pessoas analíticas (analistas independentemente de sua função) tem a capacidade de expressar ideias complexas em termos simples e dispor de habilidades de relacionamento para interagirem com os tomadores de decisões.
Então, independentemente do cargo ocupado na organização, devemos nos perguntar 'eu sou analítico?'”.
"Você sabe que é analítico quando...
1.      Aplica sistemas sofisticados de informação e análise às suas competências básicas e a uma série de funções variadas, de marketing a recursos humanos, por exemplo.
2.      Sua equipe executiva não reconhece apenas a importância dos recursos analíticos, mas também faz com que seu desenvolvimento e manutenção tenham atenção prioritária.
3.      Você trata a tomada de decisões com base em fatos não apenas como uma melhor prática, mas também como parte uma cultura constantemente realçada e comunicada pela alta administração.
4.      Você não emprega apenas pessoas com habilidades analíticas, mas sim muitas pessoas com a melhor habilidade analítica e as considera fator-chave para o sucesso.
5.      Você não emprega apenas a análise em cada função e departamento, mas também a considera tão estrategicamente importante que você administra no mais alto nível de sua empresa.
6.      Você não apenas é especialista em “moer” números, mas também inventa métricas próprias a serem utilizadas em processos-chave do negócio.
7.      Você não emprega apenas dados e análises abundantes em sua empresa, mas também compartilha-as com seus clientes e fornecedores.
8.      Você não consome apenas dados, mas também não perde qualquer oportunidade para gerar informações, criando uma cultura “teste e aprenda” com base em numerosas pequenas experiências.
9.      Você não se comprometeu apenas a competir usando a análise, mas também tem desenvolvido suas capacitações durante vários anos.
10.    Você não realça apenas a importância da análise internamente, mas também faz com que suas capacitações quantitativas façam parte da história de sua empresa, compartilhando-as nos relatórios anuais e nas conversas com analistas financeiros."
Retirado do livro “Decisões mais inteligentes”, Editora Campus.
Ah, eu tenho anos de experiência, porque estudar?
Por Adeildo Fernandes

Embora no ambiente de trabalho surjam amizades, inimizades, romances e até casamentos, este não é o objetivo das empresas. Não somos um grupo de amigos que se une para pescar no final de semana. Nem um grupo de turistas que freta um ônibus para conhecer as belezas de João Pessoa. Formamos equipes de trabalho. As empresas contratam cada um de nós porque precisa resolver seus problemas. 

As equipes de trabalho existem para encontrar estas soluções, viabilizá-las e executá-las. E as empresas são constituídas para produzir algo de qualidade, vender e obter lucro. É assim e sempre será. Onde não é assim, a economia do país é um frangalho (veja o exemplo de Cuba. Socialistas, me desculpem, mas se a “Ilha” é tão boa, porque as pessoas fogem de lá? Deveriam fugir para lá). Mesmo as empresas de turismo, que organizam aqueles grupos com destino à bela João Pessoa - sim, pasmem - elas também são organizações mercantis que visam o lucro.

É, as empresas não nos contratam para lidarmos com os nossos problemas. Deixemos eles de lado, pelo menos no local de trabalho ou a serviço, onde o que interessa (para o que somos pagos) é: resolver os problemas da organização. As empresas contratam nossas mentes, nossos talentos, nossos braços, nossa imagem, voz, enfim, elas pagam e querem receber aquilo que foi combinado na entrevista de admissão. É justo: aceitou salário "x" por serviço "y", entregue. No prazo e com qualidade, de preferência.

Não somos apenas pessoas ocupando cargos. Somos profissionais que precisam de qualificação para encontrar estas soluções com o menor custo, em menos tempo e com maior retorno (ou menor custo financeiro) possível. Nenhum cargo existe por si só ou pela beleza do nome. A organização espera que quem ocupa o cargo desenvolva uma função capaz de otimizar o lucro ou minimizar o prejuízo. Ou os dois.

Também somos trabalhadores que precisamos, queremos, desejamos ganhar mais. Reconhecimento é muito bom. Sem ele se trabalha no insosso, mesmo com um salário razoável. Gostamos de ser reconhecidos pelo nosso trabalho, é da natureza humana. Mas o que paga as contas mesmo (e banca até umas regaliazinhas) é o vil metal. Por outro lado as empresas querem retorno de cada centavo investido, inclusive no seu, no meu, no nosso salário (lembra que uma empresa não é um grupo de amigos jogando dominó?). É preciso então fazer alguma coisa pra ganhar mais, se possível até dobrar o salário, por que não?

Não vamos conseguir dobrar nossos ganhos aumentando nossa carga de trabalho. Podemos até tentar, mas logo o cansaço vencerá. Nossa experiência acumulada, por outro lado, ainda que indispensável, se torna obsoleta diante de tanta mudança. Então não seremos bons nem no emprego principal nem no bico. O que nos faz realmente ganhar mais? Aumentar o valor do nosso trabalho. Aumentar o valor da sua, da minha hora trabalhada.

Alguns meios (lícitos e sérios, claro):

1 - Aumentar a produtividade. É preciso ganhar conhecimento técnico além da experiência para poder produzir mais e melhor no mesmo espaço de tempo que se gasta atualmente, eliminando retrabalho e desperdício. Isto exige estudo.

2 - Ascender profissionalmente. Subir de cargo ou mudar para um cargo mais bem remunerado, só com qualificação, “canudo”. Dentro da organização ou em outra empresa. Isso exige estudo. Tome cuidado apenas para não ter um “canudo” oco. Cinco anos numa faculdade para sair sem saber nada, era melhor ficar só com o ensino médio mesmo.

3 - Montar o próprio negócio. O Sebrae diz que 50% das micro/pequenas empresas quebram no primeiro ano de vida. É preciso conhecer algumas técnicas de gestão para ter sucesso num negócio próprio. Isso exige estudo. Vamos tratar as exceções como tal: mesmo quando um visionário se torna um empresário de sucesso, vai precisar de gente qualificada ao seu redor, senão a empresa não prospera por muito tempo. Como as grandes empresas começam como micro ou pequenas, sempre haverá demanda por conhecimento (pois há risco de quebra antes de virarem grandes).

Resumindo, a única coisa que aumenta o valor da hora trabalhada, da mão de obra,  da marxista força de trabalho que temos para oferecer, é estudando. Adquirindo conhecimento. Especializando-se em alguma técnica, profissão, mister, ofício. Qualificando-se. Capacitando-se. Mestrando, doutorando e até pós-doutorando-se.  

Aquelas horas que se perderiam trabalhando num bico para complementar a renda, tente substituí-las por estudo. Mesmo que não queira permanecer no emprego atual. Ou mesmo que queira permanecer nele, ou mesmo abrir seu próprio negócio. Estude. Deixe a novela da “grobo” para quem não quer nada com o sucesso. Isso poderá fazer a diferença entre passar o resto da vida fazendo bico ou progredindo.
O mercado não tem pena, não tem dó. Não há lugar para coitadinhos. Ninguém quer saber do seu problema - quando você se lamenta, as pessoas tendem a se afastar. Quando você enfrenta os problemas e vence, as pessoas tendem a se aproximar.
Nunca é cedo e nunca é tarde. Seja qual for a dificuldade que você tem, alguém tem uma maior ou a mais e está estudando neste momento. Não deixe o trem das oportunidades passar. Compre seu ingresso, esteja pronto. Se não começou ontem, comece hoje. Não há sucesso sem luta, nem vitória sem sacrifício. É uma frase feita, mas é também uma verdade imparcial. É claro que quem faz o que gosta tem mais chances de sucesso, mas isso é assunto para outro post.