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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A piada da orelha gigante - o que ela tem a ver com administração?



Quando eu conto a piada abaixo meu chefe acha que não tem graça. Ultimamente não tem tido mesmo, quando encontramos relação com a administração de empresas. Vamos à piada primeiro, depois eu conto onde administração entra.

O pai vai à maternidade ver o filho recém nascido e é avisado pelo médico: “antes o senhor precisa saber, ele não tem os braços”.
O pai diz, “tudo bem, cria-se com amor e carinho. Vamos ver a criança”. O médico pára ele de novo e diz: “olha, sinto dizer mas ele não tem as pernas também”.
O pai pára, pensa e diz: “ok, o que importa é que é meu filho, quero vê-lo assim mesmo”. O médico insiste: “olhe, ele também não tem...”
O pai não espera o doutor terminar e, pra encurtar a piada, já invade o berçário. Encontra no berço uma orelha enorme, medindo uns 50cm. Sim, meu amigo, uma orelha. Enorme. Qual o problema? Posso continuar? Então...
O doutor diz, “pronto, era isso que eu tentava lhe contar”. O pai então diz: “ô, meu filho querido, papai te ama de qualquer jeito”.
O doutor bate no ombro do pai e diz: “olha, não adianta falar, ela não escuta nada”.

Não dá pra dizer qual o órgão mais importante do corpo humano. Vive-se sem um dedo, uma perna, um braço. Mas alguns órgãos, mesmo sendo vitais, não são capazes de manter o corpo funcionando se faltar outro órgão vital. Mesmo com o coração batendo, uma pessoa sem cérebro é considerada morta. Experimente manter o cérebro intacto e arranque os dois pulmões. Ou um fígado, ou um baço. Basta cortar a aorta e, nem coração, nem cérebro, nem fígado nem baço, por mais saudável que seja, manterá o corpo vivo.

Numa empresa é parecido. Não adianta ser uma enorme orelha, e ainda por cima surda. Não adianta focar só a operação, a operação, a operação. Os líderes precisam ter conhecimento mais amplo, conhecer seu papel no resto do corpo. Os líderes só não, todos os colaboradores, empregados, operários, funcionários, o nome não importa. Se faltarem pernas, o corpo vai sacrificar a mão, pois precisará rastejar. A mão ficará suja, calejada e se deformará com o tempo. Se a organização sobrevaloriza sua atividade principal e não dá a dimensão devida a marketing, compras, financeiro, pessoal, jurídico, tende a comprometer a própria atividade principal, já que o apoio necessário que as atividades secundárias prestam à principal será sempre insuficiente, ou deficiente, decorrente da sobrecarga ou do subdimensionamento.

Uma empresa é uma organização, um organismo, um sistema. E em todo sistema existe uma entrada, um processamento e uma saída. Entrada de insumo, gente, energia, conhecimento, dinheiro. Processamento é o conjunto de coisas que se faz com estes insumos para produzir algo. Saída é o produto esperado, o tal algo resultante do processamento ao qual os insumos foram submetidos. Quando não sai o que se espera, existe uma coisa chamada retroalimentação. Ou um nome mais bonito: feedback. Algo que diz para o sistema: "olha você deveria entregar crianças, mas só sai orelhas surdas". Aí o processo deve ser revisto com honestidade e coragem para encontrar as falhas, descobrir que insumos não servem e processar as mudanças necessárias, sob pena de preservar o sistema falho e não entregar a saída esperada. Porque o ambiente (cliente, fornecedor, sociedade) acaba rejeitando o sistema falho, se ele não entrega o esperado. “Queremos crianças com medidas normais, não orelhas enormes e surdas”, dirá o mercado. Não adianta dizer, “mas eu sou a melhor e maior orelha surda do mundo”, porque o mercado não vai querer nem saber.

Não estou dizendo para deixar o negócio principal de lado e se dedicar às atividades secundárias. Sou administrador, não maluco. Estou dizendo que é preciso descobrir a real dimensão que cada atividade secundária tem e extrair dela o máximo de recursos para que a atividade principal funcione a contento, para que não seja mirrada como a mão de um aleijado, nem seja maior que o resto do corpo como a cabeça do ET de Spielberg, que mal conseguia andar. Uma pessoa deficiente que supera suas dificuldades é digna de admiração. Palestras e exemplos destas pessoas fazem com que encontremos forças tidas como inexistentes antes de ver a superação de quem não nasceu “perfeito” e acaba superando muito marmanjo "perfeito" na proporção de 10 para 1. Mas uma empresa não precisa se tornar deficiente para, depois de muito custo, superar a deficiência e ser digna de aplauso. Isso é arriscado e desperdiça tempo e recursos. Um princípio da economia é que as necessidades são infinitas e os recursos são escassos. Para quê desperdiçar?

Uma empresa é uma organização impessoal. Porque o mercado é impessoal. Exceto no legislativo brasileiro, no mundo não há lugar para incompetentes, descompromissados ou acomodados, muito menos para coitadinhos. Eu sei, eu sei, mas a vida é assim, não fui eu que inventei o sistema. Empresas que relutam em substituir pessoas improdutivas – sejam quais forem suas razões – terão grandes dificuldades de se manter nesse tal mercado – crescer então, nem pensar. E o ambiente ao redor dessa empresa não quer saber se ela é boazinha com seus empregados meia-sola. Responsabilidade social é qualquer coisa menos manter gente que, quando não ajuda a empresa a crescer, até atrapalha esse crescimento. Existem mil maneiras de ajudar pessoas, essa não é uma delas.

O que as organizações precisam é de gente profissional. Amadores não resolvem problemas complexos, porque tem visão restrita. Profissionais tem visão ampla, entendem a complexidade dos sistemas com os quais lidam, aprendem com os erros. Profissionais pensam na organização e entendem que sua própria sobrevivência depende da perpetuação da organização. Mesmo que eles não fiquem nela a vida inteira, mas carregam consigo este valor. Tudo bem, nem toda empresa merece ter profissionais em seu quadro, porque sugam e não retribuem. Mas o inverso também é verdadeiro: muito amador perdendo oportunidade profissional e queimando oportunidades empresariais porque está no lugar errado. Quando o profissional descobre que está numa furada, pede para sair e vai em busca de coisa melhor. Porque uma organização séria, transparente e que valoriza o colaborador precisa manter amadores em seus quadros?