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quarta-feira, 12 de outubro de 2011


Porque Steve Jobs é um Gênio e um certo ex-presidente não é?

Um grande amigo meu questionou, no Facebook, porque Steve Jobs, falecido semana passada, é considerado gênio e L, o ex-presidente, não o é. Será que o primeiro é gênio por força do capitalismo selvagem, que não tem olhos para o torneiro mecânico nordestino que presidiu o Brasil por oito anos? Não seria isso um traço de genialidade também?

Antes de começar, preciso avisar: gênio não é santo; não é tolo; nem é inocente. Santo só existe um, o que morreu na cruz – usamos o termo santo de forma errada para seres humanos normais. Tolo é o camarada sem malícia, simplório. Inocente é a pessoa isenta de culpa.
Andei fuçando os dicionários buscando definição para “gênio” antes de escrever este post. Etimologicamente gênio vem de guia, tutor de uma pessoa ou de uma gens (grupo  social da Roma antiga).

Epa, agora lascou. Vamos definir tutor. Do latim “tutor”, “protector”. Na minha definição, alguém que faz algo relevante para a humanidade ou parte considerável dela (vamos aceitar um país como o Brasil nesta conta). Isto complica a minha humilde análise, porque Steve Jobs não se parece com um protetor (era um empresário de sucesso), mas L se parece com um (foi um presidente neopopulista), do tipo que nunca houve antes na história desse país.

É mas não parece

Mas, como nem tudo que parece é, Steve Jobs, capitalista, empresário e visionário, acabou sim sendo tutor de muita gente. Gerar empregos é apenas um efeito colateral. Diz um artigo na Veja da semana da morte de Jobs, que sem ele não teríamos as telas sensíveis ao toque. Os celulares seriam trambolhos. Os tocadores de mp3 teriam 10 botões. O tablet que Bill Gates apresentou 10 anos atrás, se comparado ao tablet atual (que não foi inventado na Apple, mas é, também, um efeito colateral da genialidade de Jobs) é a mesma coisa que os antigos celulares tijolões, se comparados ao Iphone (ou ao meu Galaxy S da concorrente coreana Samsung).

Por causa da paranoia por perfeição com simplicidade de Jobs, toda a indústria eletrônica acabou melhorando a qualidade de seus produtos, para acompanhar a evolução dos Macs, Aipedes, Aipodes, Aifones, aidentus e congêneres.

Em decorrência disso, o mundo hoje é de algum modo, melhor. Mais simples. Mais prático. Mais intuitivo e interativo. O que antes era ficção de cinema – em Minority Report, Tom Cruise mexe em telas impossíveis - hoje achamos a coisa mais besta do mundo. E cada vez mais acessível.

Na Apple de Jobs, um apadrinhado desqualificado tecnicamente jamais ocupou o lugar de um profissional técnico. Na verdade, não há lugar ali para alguém menos que brilhante. Um gênio se cerca de gênios. Um medíocre cerca-se de medíocres.

Parece mas não é

Ok. Agora vamos a L. Nordestino. Persistente. Inteligente, apesar de iletrado. Tentou inúmeras vezes eleger-se presidente. Conseguiu quando, por obra e graça do marketing politico, tornou-se palatável aos ricos, sem perder seu vínculo com os pobres.
Trajetória curiosa e digna de respeito. Um homem simples que, cria um partido (uma gang travestida de legalidade, mas já vimos que o buraco é mais embaixo) e, pela via democrática, vira e permanece oito anos presidente do Brasil. Sim, L é inteligente. Não se graduou para não perder a identidade com o populacho. Mas chega de baboseira. Vamos logo ao que interessa: porque ele não é gênio.

Ele não fez lá grandes coisas, convenhamos. Mas quer parecer ter feito, vendeu bem um peixe que mais parece sardinha enlatada. Os bolsas-qualquer-coisa ele herdou da finada Ruth Cardoso, ampliou a tal ponto que até vereador recebeu. Liberou geral para o MST, que invadiu tudo que encontrou pela frente, depredou até prédio público Longe disso. Tirou proveito de um momento involuntário de crescimento, fruto do esforço de empresários e trabalhadores – verdadeiros responsáveis pela manutenção desta meleca de país – vangloriando-se de ter sido o condutor do tal crescimento. Muito pelo contrário, o homem pipocou os gastos públicos e vivia sonhando com novas ou antigas formas de taxação da cadeia produtiva (inclusive a CPMF, que ele combatia quando "oposição").

Manteve em funções de necessidades técnicas, sempre, apadrinhados políticos sem qualificação. Gente que não soube lidar com aviação (caos), com crise econômica (chamada de marola), com justiça (como, com aqueles "companheiros" no poder?).
Deixou para nós um belo legado: Dilza, Dirmeu, Delúvio e uma inflação com músculos de boxeador, que ele alimentou por oito anos, sem nada de concreto e efetivo para assegurar o futuro nunca visto na história desse país. 

Capitalismo e genialidade

Entendo que o capitalismo, com todos os seus defeitos (não são poucos), permite que o gênio se destaque, porque os recursos podem financiar a genialidade. Pesquisas em medicina, tecnologia, agropecuária e tantas outras áreas da ciência só funcionam se as despesas forem pagas. Com dinheiro. O lado ruim do capitalismo é que a liberdade e a democracia dá espaço para Evos Morales, Hugos Chaves e, bem menos radicais, Ls.

O socialismo não é celeiro de gênios. É a natureza do sistema: uma igualdade forçada que coíbe a aparição de talentos. O governo socialista não tem como investir em pesquisas. O dinheiro é do povo, não do capital (na verdade, é dos ditadores, o povo passa é fome mesmo). Ah, tem o esporte, é verdade. Mas o esporte socialista se destaca porque seus governos investiram com o objetivo de vender uma imagem de sucesso para o resto do mundo. No Pan-Americano do Rio de Janeiro, atletas cubanos deram um jeito de escapar. E L, de devolvê-los ao barba-negra.

O socialismo produziu nada mais do que monstros: Che, Fidel, Lenin, Stalin e outras desgraças para a humanidade. Há quem goste, eu não gosto.  O socialismo não tem lado bom. A medicina de lá é razoável, mas a do Brasil é historicamente melhor. Nunca, na história desse planeta, alguém fugiu de um país capitalista para um comunista ou socialista. Pelo contrário, as pessoas fogem DE Cuba, e não PARA Cuba. Uma pessoa fugir de um lugar legal para um ruim, eu entendo, gosto e nariz cada um tem o seu. Mas centenas de milhares de fugitivos por anos a fio... peraí, menino. Meu amigo, um lugar onde você é obrigado a ouvir horas de discurso de um ditador, para ser ruim tem de melhorar muito.

Admitamos e adimiremos

L é inteligente, repito pela terceira ou quarta vez. Muito. Do ponto de vista individual ele é um sucesso, pois chegou onde queria. Percebeu que a pecha socialista não o levaria ao palácio do planalto. Então virou L paz-e-amor, abriu mão de paradigmas forjados na metalurgia do ABC paulista - um feito enorme, poucos tem tanta facilidade de adaptação. Ganhou. Fez um "sambarelove" do Brasil para o mundo como nunca se viu antes neste país. Mas o mundo, ou o Brasil, está longe de ser um lugar melhor por conta de qualquer ação dele como presidente. Se chegamos até aqui, foi por (muito) esforço nosso, sustentando um monte de surrupiadores e/ou preguiçosos (eleitos por nós ou comissionados por eles) e ainda assim, obtendo sucesso como iniciativa privada, com toda essa carga tributária (que o “gênio” apenas ajudou a aumentar). Ou seja, o Brasil não é melhor por causa dele, é melhor apesar dele.  Respodendo ao meu amigo: “Quando sois reis, tens de saber [TODAS] essas coisas”. Ele vai lembrar de onde veio essa frase.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A piada da orelha gigante - o que ela tem a ver com administração?



Quando eu conto a piada abaixo meu chefe acha que não tem graça. Ultimamente não tem tido mesmo, quando encontramos relação com a administração de empresas. Vamos à piada primeiro, depois eu conto onde administração entra.

O pai vai à maternidade ver o filho recém nascido e é avisado pelo médico: “antes o senhor precisa saber, ele não tem os braços”.
O pai diz, “tudo bem, cria-se com amor e carinho. Vamos ver a criança”. O médico pára ele de novo e diz: “olha, sinto dizer mas ele não tem as pernas também”.
O pai pára, pensa e diz: “ok, o que importa é que é meu filho, quero vê-lo assim mesmo”. O médico insiste: “olhe, ele também não tem...”
O pai não espera o doutor terminar e, pra encurtar a piada, já invade o berçário. Encontra no berço uma orelha enorme, medindo uns 50cm. Sim, meu amigo, uma orelha. Enorme. Qual o problema? Posso continuar? Então...
O doutor diz, “pronto, era isso que eu tentava lhe contar”. O pai então diz: “ô, meu filho querido, papai te ama de qualquer jeito”.
O doutor bate no ombro do pai e diz: “olha, não adianta falar, ela não escuta nada”.

Não dá pra dizer qual o órgão mais importante do corpo humano. Vive-se sem um dedo, uma perna, um braço. Mas alguns órgãos, mesmo sendo vitais, não são capazes de manter o corpo funcionando se faltar outro órgão vital. Mesmo com o coração batendo, uma pessoa sem cérebro é considerada morta. Experimente manter o cérebro intacto e arranque os dois pulmões. Ou um fígado, ou um baço. Basta cortar a aorta e, nem coração, nem cérebro, nem fígado nem baço, por mais saudável que seja, manterá o corpo vivo.

Numa empresa é parecido. Não adianta ser uma enorme orelha, e ainda por cima surda. Não adianta focar só a operação, a operação, a operação. Os líderes precisam ter conhecimento mais amplo, conhecer seu papel no resto do corpo. Os líderes só não, todos os colaboradores, empregados, operários, funcionários, o nome não importa. Se faltarem pernas, o corpo vai sacrificar a mão, pois precisará rastejar. A mão ficará suja, calejada e se deformará com o tempo. Se a organização sobrevaloriza sua atividade principal e não dá a dimensão devida a marketing, compras, financeiro, pessoal, jurídico, tende a comprometer a própria atividade principal, já que o apoio necessário que as atividades secundárias prestam à principal será sempre insuficiente, ou deficiente, decorrente da sobrecarga ou do subdimensionamento.

Uma empresa é uma organização, um organismo, um sistema. E em todo sistema existe uma entrada, um processamento e uma saída. Entrada de insumo, gente, energia, conhecimento, dinheiro. Processamento é o conjunto de coisas que se faz com estes insumos para produzir algo. Saída é o produto esperado, o tal algo resultante do processamento ao qual os insumos foram submetidos. Quando não sai o que se espera, existe uma coisa chamada retroalimentação. Ou um nome mais bonito: feedback. Algo que diz para o sistema: "olha você deveria entregar crianças, mas só sai orelhas surdas". Aí o processo deve ser revisto com honestidade e coragem para encontrar as falhas, descobrir que insumos não servem e processar as mudanças necessárias, sob pena de preservar o sistema falho e não entregar a saída esperada. Porque o ambiente (cliente, fornecedor, sociedade) acaba rejeitando o sistema falho, se ele não entrega o esperado. “Queremos crianças com medidas normais, não orelhas enormes e surdas”, dirá o mercado. Não adianta dizer, “mas eu sou a melhor e maior orelha surda do mundo”, porque o mercado não vai querer nem saber.

Não estou dizendo para deixar o negócio principal de lado e se dedicar às atividades secundárias. Sou administrador, não maluco. Estou dizendo que é preciso descobrir a real dimensão que cada atividade secundária tem e extrair dela o máximo de recursos para que a atividade principal funcione a contento, para que não seja mirrada como a mão de um aleijado, nem seja maior que o resto do corpo como a cabeça do ET de Spielberg, que mal conseguia andar. Uma pessoa deficiente que supera suas dificuldades é digna de admiração. Palestras e exemplos destas pessoas fazem com que encontremos forças tidas como inexistentes antes de ver a superação de quem não nasceu “perfeito” e acaba superando muito marmanjo "perfeito" na proporção de 10 para 1. Mas uma empresa não precisa se tornar deficiente para, depois de muito custo, superar a deficiência e ser digna de aplauso. Isso é arriscado e desperdiça tempo e recursos. Um princípio da economia é que as necessidades são infinitas e os recursos são escassos. Para quê desperdiçar?

Uma empresa é uma organização impessoal. Porque o mercado é impessoal. Exceto no legislativo brasileiro, no mundo não há lugar para incompetentes, descompromissados ou acomodados, muito menos para coitadinhos. Eu sei, eu sei, mas a vida é assim, não fui eu que inventei o sistema. Empresas que relutam em substituir pessoas improdutivas – sejam quais forem suas razões – terão grandes dificuldades de se manter nesse tal mercado – crescer então, nem pensar. E o ambiente ao redor dessa empresa não quer saber se ela é boazinha com seus empregados meia-sola. Responsabilidade social é qualquer coisa menos manter gente que, quando não ajuda a empresa a crescer, até atrapalha esse crescimento. Existem mil maneiras de ajudar pessoas, essa não é uma delas.

O que as organizações precisam é de gente profissional. Amadores não resolvem problemas complexos, porque tem visão restrita. Profissionais tem visão ampla, entendem a complexidade dos sistemas com os quais lidam, aprendem com os erros. Profissionais pensam na organização e entendem que sua própria sobrevivência depende da perpetuação da organização. Mesmo que eles não fiquem nela a vida inteira, mas carregam consigo este valor. Tudo bem, nem toda empresa merece ter profissionais em seu quadro, porque sugam e não retribuem. Mas o inverso também é verdadeiro: muito amador perdendo oportunidade profissional e queimando oportunidades empresariais porque está no lugar errado. Quando o profissional descobre que está numa furada, pede para sair e vai em busca de coisa melhor. Porque uma organização séria, transparente e que valoriza o colaborador precisa manter amadores em seus quadros?

sábado, 28 de maio de 2011

Tentando não emburrecer

Semana passada eu não postei nada aqui no blog. Mas assisti ao filme “O Leitor”, o que me leva a um post dobrado, feito tapioca. Lá vai.

Na Alemanha pós-guerra, um jovem estudante tem um relacionamento com uma ex-carcereira nazista, Hanna. Ela é analfabeta, ele lê para ela, que se emociona com os textos. Mais tarde Hanna é condenada, por um tribunal de guerra, à prisão perpétua, por um crime cometido contra prisioneiras de Auschwitz. Poderia ter pego quatro anos mas foi pegou pena máxima porque assumiu a autoria de um relatório sobre o incidente que ela, analfabeta, não poderia ter preenchido. Ela, entretanto, preferiu assumir o relatório a admitir o analfabetismo.

O filme me fez pensar: quando não fomos expostos ao conhecimento não temos responsabilidade sobre ele. Mas quando você passa, por exemplo, por uma faculdade e sai do mesmo jeito que entrou – não aprendeu nada, empurrou com a barriga – você “emburreceu” voluntariamente - mesmo sendo inteligente. Antes você não sabia por que não tinha acesso ao conhecimento. Agora você não sabe por que não conseguiu (ou pior, não quis) absorver o conhecimento ao qual esteve exposto. E não foi uma exposição aleatória, você passou anos submetido a um sistema de ensino com métodos, técnicas e avaliações. O jeito é fingir que sabe, como Hanna, mesmo que isso lhe custe caro. Mas nunca é cedo nem nunca é tarde para o aprendizado. Vejamos:

Quem estuda sistemas de informação – numa graduação, num curso profissionalizante ou numa disciplina em outro curso, logo aprende o caminho progressivo da informação. Este conceito é indispensável para nós que vivemos a chamada era ou sociedade do conhecimento.
Tudo começa com o dado, aquela partícula bruta e sem significado. Depois vem a informação, um conjunto de dados que, submetido a determinada situação, ganha significado e contexto.  Sim, porque mesmo uma montanha recheada de toneladas de dados, se estes não forem cimentados com significado e assentados sobre um contexto, não passará de uma montanha, apenas.

A informação, então, pode ser comparada a um átomo, composto de seus elétrons, íons, nêutrons e outras partículas que surpreendem os cientistas ao serem descobertas. Tais partículas só fazem algum sentido funcional quando, juntas, constituem o todo, o átomo.

Agora sim, passa-se ao conhecimento. Davenport afirma que o conhecimento é a informação com valor agregado, porque, segundo ele, à informação foi adicionada uma interpretação, uma ligação com o contexto sobre a qual ela foi assentada. Quando as pessoas processam a informação à qual foram expostas, quando usam informação para processar informação, pensam, raciocinam e devolvem esta informação enriquecida, pronto, produziram conhecimento.

O conhecimento é intrínseco ao indivíduo. Mas é também objeto de domínio comum, público. Foi produzido e está aí, à disposição, como o oxigênio no ar. Ocorre que, como o pulmão desempenha um processo fisiológico para extrair o oxigênio do ar, o conhecimento precisa ser garimpado, extraído do mar de dados e informações existentes nos diversos meios – papel, internet, televisão, rádio, fala, gestos, sinais, etc.

O conhecimento adquirido não pode ser tomado de volta. Um ladrão leva seu celular, seu notebook cheio de informações, mas não pode tomar o que você aprendeu. Isso você pode passar adiante, pode ser doado, mas não tomado. Ou morre com você ou se perde em caso de algum evento que danifique seu sistema cerebral – amnésia, acidente vascular, traumatismo, coisas da ordem.

Pulando a complexidade dos processos de transformação de dado em informação, desta em conhecimento e deste em ciência, podemos dizer que a ciência é a sistematização do conhecimento. Alguém escreveu no Wikipedia que ciência é um sistema de aquisição de conhecimento através de um método. É a forma racional, sistemática de se produzir conhecimento, através de processos cognitivos e sociais.

Hã, sei, mas, para quê toda essa conversa? Para que sejamos racionais, sistemáticos, metódicos e perspicazes na produção do nosso conhecimento, para que, quem sabe, possamos produzir também ciência. O tempo é muito curto e o volume de dados, informações, conhecimento e ciência já produzidos a e se produzir é infinito. É um conceito econômico, as necessidades humanas são infinitas enquanto os recursos são escassos. Claro, ninguém vai ser tão caxias, tão chato ao ponto de só pensar “naquilo”. Mas até do ócio se pode tirar algum aprendizado.

Enquanto crianças como uma finalista do “Soletrando” do “Caldeirão do Huck” caminham dezenas de quilômetros para tomarem aula em escolas precárias no sertão nordestino, nós que temos acesso a tanta informação não podemos desdenhar deste acesso e deixar o conhecimento relegado a um segundo, terceiro plano. É como ser saudável e escarnecer de quem é portador de alguma necessidade especial.

Então, quando estivermos numa sala de aula, numa palestra, com um livro na mão, uma revista, assistindo a novela, o futebol, dirigindo ou apenas sentado esperando a vez de aplicar flúor no dente, não deixemos de observar. De medir, analisar, inquirir, questionar. Não deixemos de prestar atenção, de ler, de criticar, de torcer, mas com um olhar clínico, de procurar entender o que os dados que estão na nossa frente nos dizem? Que informações são relevantes e quais são descartáveis? Como adquirir conhecimento necessário para meu próximo movimento, minha próxima ação? Como fazer ciência, como inovar, como encarar meu próximo desafio?

Criemos para nós mesmos metas de eficiência na produção de conhecimento, seja ele técnico, profissional, familiar, espiritual, musical, não importa. O que importa é o seguinte: não existe sorte, o que existe é o encontro da competência com a oportunidade. E para reconhecer uma oportunidade quando ela aparecer, só achismo não serve. "Eu acho queeee" é bordão de jogador de futebol.  E como dizia um professor meu, “achologia” não é ciência. É necessário conhecimento.

domingo, 15 de maio de 2011



Desmistificando a motivação no trabalho

Dizem que política, religião e futebol são três coisas que não dá para discutir, porque são assuntos polêmicos. Outro dia um conhecido meu disse que motivação é um tema candidato à lista de polêmicos. Discordo. Motivação é coisa simples de entender, mas não sem antes quebrar alguns paradigmas, ou pelo menos, compreendê-los. Especialmente no trabalho.
Um paradigma é o da velha dicotomia entre “como motivar pessoas” e “ninguém motiva ninguém”. A segunda afirmativa é fato. Outro dia, ministrei uma pequena palestra a respeito - para uns colegas de trabalho e um deles demorou a distinguir influência, inspiração de motivação. Na conversa que se seguiu, descobrimos uma maneira fácil de distingui-las:

Motivação é uma força interna resultante de quatro elementos: um alvo (motivo), uma quantidade esforço necessário, certo grau de disposição para o esforço e, muita, muita persistência. Nenhum destes elementos depende de outra pessoa. Você fixa seu alvo, você calcula o preço a pagar, decide se vai pagar este preço e dedica-se a ele com a determinação que julga adequada. É a ação levada a cabo por um motivo.

Influência (do latim influentia, influere) remete à ideia de algo que flui para dentro,não forçado, naturalmente. Sem que percebamos, hábitos, palavras, atitudes de outras pessoas afetam nossos próprios hábitos. Um amigo, um parente, um professor podem causar boas e más influências pelo tempo e pelo tipo de convivência.

Inspiração (do latim inspirare), segundo os dicionários, é buscar ar para os pulmões. Nesse caso buscamos naqueles hábitos, palavras ou atitudes dos outros um referencial para nós. Geralmente buscamos inspiração em alguém que admiramos. Ou nos inspiramos em pessoas que têm motivação similar à nossa.

Outro paradigma a ser quebrado sobre motivação no trabalho é o do salário como fator motivador. É comum as pessoas pensarem que salário “motiva até certo ponto”. Discordo. Salário não é fator motivador. É fator de satisfação. Quebrar esse paradigma requer um esforço mental mais complexo. Vamos a ele.

Interpreto fator motivador, a partir de Maslow, como aquilo que faz com que o indivíduo continue dedicando a ele esforço persistente mesmo que já tenha suas necessidades básicas satisfeitas, ou mesmo quando alcançar o fator motivador (o alvo) não satisfaz suas necessidades básicas: realizar algo nobre, vencer uma competição, salvar uma vida, etc. Fator de satisfação, por outro lado, é aquele que atende às necessidades básicas mais imediatas, pelas quais o sacrifício é condição de sobrevivência: comer, vestir, morar, etc.

É claro que precisamos de salário para satisfazer nossas necessidades, sejam elas básicas ou supérfluas. É claro que quando atingimos nosso alvo, quanto temos sucesso profissional, podemos até ganhar dinheiro. É claro que não dá para trabalhar de graça. É óbvio que qualidade de vida e conforto não caem do céu, precisa de dinheiro para comprá-los. O que eu quero demonstrar é que o salário satisfaz, mas não motiva, e tenho provas. Vejamos:

1-       Dez vendedores têm o mesmo salário, as mesmas condições de trabalho e a mesma comissão. Logo, sendo salário um fator motivador, porque uns vendem mais e outros menos? Porque as motivações são diferentes. Os ganhos pecuniários são consequência.

2-       Parlamentares são, de longe, os trabalhadores mais bem remunerados. Ganham muito, trabalham pouco, a maioria não tem qualificação técnica, o comprometimento com o trabalho é baixo, a carga horária é ínfima, os benefícios e regalias são imensos. Mesmo assim eles não se cansam de aumentarem o próprio salário. Porque não estão lá motivados por salários, suas motivações são outras.

3-       Professores são, na proporção inversa, os que tem pior remuneração. Estudam muito, dão aula, aturam todo tipo de aluno, corrigem provas, elaboram planos de aula e mesmo assim tem salários baixíssimos, se comparados aos políticos. Entretanto, vemos professores extremamente dedicados, que inspiram e influenciam alunos, dando verdadeiros shows em sala, enquanto outros beiram a estupidez total. O que faz um professor que ganha pouco fazer de cada aula um espetáculo? Certamente não é o salário. A motivação dele é outra.

Para ficar só nisso, teríamos os bombeiros, os policiais, o trabalho voluntário, as enfermeiras, os cientistas, gente que se mete em atividades críticas, insalubres ou de risco, abrem mão do convívio social, e, contrariando o paradigma de que salário é fator motivador (parcial ou integralmente), não ganham rios de dinheiro mas são felizes, realizados, contentes com sua missão no mundo.

Existe uma linha tênue que divide o fator motivacional do fator de satisfação. E a satisfação está abaixo da linha, abaixo da motivação. Primeiro você satisfaz suas necessidades, depois corre atrás do que lhe motiva. Salário não motiva porque não consegue nem satisfazer plenamente as nossas necessidades (mostre-me alguém 100% satisfeito com seu próprio salário). Exceções existem, mas as pessoas motivadas apenas pelo dinheiro são infelizes, algo mesquinhas, vivem para acumular, não para realizar.

Ah, chegou aonde eu queria. O terceiro paradigma: a felicidade. O que realmente nos motiva, o que produz a ambição necessária para enfrentarmos os obstáculos e chegar lá, o que nos faz ser diferentes, encontrar nossa “vocação”, envidar esforços, persistir tenazmente, é a felicidade.

Eu acredito que qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa. Também acredito que qualquer pessoa pode desenvolver qualquer talento, exceção para algumas raras limitações físicas. Quem duvida deve lembrar que Einstein era péssimo em matemática quando criança; Beethoven perdeu a audição progressivamente até os 26 anos, e mesmo surdo compôs obras universais; Davi era franzino e delicado demais para o padrão masculino da época, mesmo assim reinou em Israel no lugar de Saul, um brutamontes, convenhamos, com mais eficácia administrativa.
O que, então, nos move? O que faz alguém trabalhar até o esgotamento sem sentir cansaço nem se render ao obstáculo? A felicidade. Quem é feliz no que faz se especializa tanto, treina tanto, erra e acerta tanto que vira expert. Quem descobre isso, descobre e desenvolve seus próprios talentos, vocações, dons e tudo o mais que é necessário para ser excelente no que faz, manter-se motivado, realizar-se e ser feliz.

E o contrário? Quem não é feliz naquilo que faz não rende. Adoece; é, no máximo, medíocre, ou menos que isso; desiste fácil; sofre, e, naturalmente, não tem motivação alguma no que faz, porque o que faz não o motiva. E não adianta ganhar bem: o sujeito sai de casa como um condenado sai para a forca. Compra tudo o que o dinheiro permite, mas continua infeliz. Jesus Cristo dizia que onde “está o teu tesouro, ali estará o teu coração”. Paixão, tesão, garra, dedicação, são palavras relacionadas a esportistas, exemplos simples de motivação (alvo, preço, esforço e persistência). É isso que uma pessoa motivada tem, mesmo sendo um sedentário como eu.

Então uma pessoa motivada não depende de ninguém para encontrar sua felicidade. Claro que precisamos dos outros, a felicidade não é uma coisa mesquinha, individualista, mas o caminho é uma luta individual. Uma pessoa motivada pode ser influenciada por outra para encontrar seu caminho; pode se inspirar em outras para aprimorar-se em busca dos seus objetivos. Mas o objetivo dessa conversa toda é desmistificar essa confusão toda que se faz quando o assunto é motivação.

Um líder precisa saber diferenciar motivação, influência e inspiração, para poder influenciar e inspirar no momento certo; não desperdiçar energia tentando motivar seus liderados, porque isto ele jamais conseguirá. E principalmente, não desperdiçar dinheiro da empresa tentando motivar sua equipe com salários. Calma: não sou contra aumentar salário, eu também sou assalariado. Apenas entendo que isto deve ficar por conta da política salarial da empresa. Descubra o que motiva as pessoas, influencie, inspire e alcançará seus objetivos pessoais, de equipe e corporativos. Todos serão felizes para sempre e talvez, de quebra, ainda consigamos salvar o mundo.