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domingo, 15 de maio de 2011



Desmistificando a motivação no trabalho

Dizem que política, religião e futebol são três coisas que não dá para discutir, porque são assuntos polêmicos. Outro dia um conhecido meu disse que motivação é um tema candidato à lista de polêmicos. Discordo. Motivação é coisa simples de entender, mas não sem antes quebrar alguns paradigmas, ou pelo menos, compreendê-los. Especialmente no trabalho.
Um paradigma é o da velha dicotomia entre “como motivar pessoas” e “ninguém motiva ninguém”. A segunda afirmativa é fato. Outro dia, ministrei uma pequena palestra a respeito - para uns colegas de trabalho e um deles demorou a distinguir influência, inspiração de motivação. Na conversa que se seguiu, descobrimos uma maneira fácil de distingui-las:

Motivação é uma força interna resultante de quatro elementos: um alvo (motivo), uma quantidade esforço necessário, certo grau de disposição para o esforço e, muita, muita persistência. Nenhum destes elementos depende de outra pessoa. Você fixa seu alvo, você calcula o preço a pagar, decide se vai pagar este preço e dedica-se a ele com a determinação que julga adequada. É a ação levada a cabo por um motivo.

Influência (do latim influentia, influere) remete à ideia de algo que flui para dentro,não forçado, naturalmente. Sem que percebamos, hábitos, palavras, atitudes de outras pessoas afetam nossos próprios hábitos. Um amigo, um parente, um professor podem causar boas e más influências pelo tempo e pelo tipo de convivência.

Inspiração (do latim inspirare), segundo os dicionários, é buscar ar para os pulmões. Nesse caso buscamos naqueles hábitos, palavras ou atitudes dos outros um referencial para nós. Geralmente buscamos inspiração em alguém que admiramos. Ou nos inspiramos em pessoas que têm motivação similar à nossa.

Outro paradigma a ser quebrado sobre motivação no trabalho é o do salário como fator motivador. É comum as pessoas pensarem que salário “motiva até certo ponto”. Discordo. Salário não é fator motivador. É fator de satisfação. Quebrar esse paradigma requer um esforço mental mais complexo. Vamos a ele.

Interpreto fator motivador, a partir de Maslow, como aquilo que faz com que o indivíduo continue dedicando a ele esforço persistente mesmo que já tenha suas necessidades básicas satisfeitas, ou mesmo quando alcançar o fator motivador (o alvo) não satisfaz suas necessidades básicas: realizar algo nobre, vencer uma competição, salvar uma vida, etc. Fator de satisfação, por outro lado, é aquele que atende às necessidades básicas mais imediatas, pelas quais o sacrifício é condição de sobrevivência: comer, vestir, morar, etc.

É claro que precisamos de salário para satisfazer nossas necessidades, sejam elas básicas ou supérfluas. É claro que quando atingimos nosso alvo, quanto temos sucesso profissional, podemos até ganhar dinheiro. É claro que não dá para trabalhar de graça. É óbvio que qualidade de vida e conforto não caem do céu, precisa de dinheiro para comprá-los. O que eu quero demonstrar é que o salário satisfaz, mas não motiva, e tenho provas. Vejamos:

1-       Dez vendedores têm o mesmo salário, as mesmas condições de trabalho e a mesma comissão. Logo, sendo salário um fator motivador, porque uns vendem mais e outros menos? Porque as motivações são diferentes. Os ganhos pecuniários são consequência.

2-       Parlamentares são, de longe, os trabalhadores mais bem remunerados. Ganham muito, trabalham pouco, a maioria não tem qualificação técnica, o comprometimento com o trabalho é baixo, a carga horária é ínfima, os benefícios e regalias são imensos. Mesmo assim eles não se cansam de aumentarem o próprio salário. Porque não estão lá motivados por salários, suas motivações são outras.

3-       Professores são, na proporção inversa, os que tem pior remuneração. Estudam muito, dão aula, aturam todo tipo de aluno, corrigem provas, elaboram planos de aula e mesmo assim tem salários baixíssimos, se comparados aos políticos. Entretanto, vemos professores extremamente dedicados, que inspiram e influenciam alunos, dando verdadeiros shows em sala, enquanto outros beiram a estupidez total. O que faz um professor que ganha pouco fazer de cada aula um espetáculo? Certamente não é o salário. A motivação dele é outra.

Para ficar só nisso, teríamos os bombeiros, os policiais, o trabalho voluntário, as enfermeiras, os cientistas, gente que se mete em atividades críticas, insalubres ou de risco, abrem mão do convívio social, e, contrariando o paradigma de que salário é fator motivador (parcial ou integralmente), não ganham rios de dinheiro mas são felizes, realizados, contentes com sua missão no mundo.

Existe uma linha tênue que divide o fator motivacional do fator de satisfação. E a satisfação está abaixo da linha, abaixo da motivação. Primeiro você satisfaz suas necessidades, depois corre atrás do que lhe motiva. Salário não motiva porque não consegue nem satisfazer plenamente as nossas necessidades (mostre-me alguém 100% satisfeito com seu próprio salário). Exceções existem, mas as pessoas motivadas apenas pelo dinheiro são infelizes, algo mesquinhas, vivem para acumular, não para realizar.

Ah, chegou aonde eu queria. O terceiro paradigma: a felicidade. O que realmente nos motiva, o que produz a ambição necessária para enfrentarmos os obstáculos e chegar lá, o que nos faz ser diferentes, encontrar nossa “vocação”, envidar esforços, persistir tenazmente, é a felicidade.

Eu acredito que qualquer pessoa é capaz de qualquer coisa. Também acredito que qualquer pessoa pode desenvolver qualquer talento, exceção para algumas raras limitações físicas. Quem duvida deve lembrar que Einstein era péssimo em matemática quando criança; Beethoven perdeu a audição progressivamente até os 26 anos, e mesmo surdo compôs obras universais; Davi era franzino e delicado demais para o padrão masculino da época, mesmo assim reinou em Israel no lugar de Saul, um brutamontes, convenhamos, com mais eficácia administrativa.
O que, então, nos move? O que faz alguém trabalhar até o esgotamento sem sentir cansaço nem se render ao obstáculo? A felicidade. Quem é feliz no que faz se especializa tanto, treina tanto, erra e acerta tanto que vira expert. Quem descobre isso, descobre e desenvolve seus próprios talentos, vocações, dons e tudo o mais que é necessário para ser excelente no que faz, manter-se motivado, realizar-se e ser feliz.

E o contrário? Quem não é feliz naquilo que faz não rende. Adoece; é, no máximo, medíocre, ou menos que isso; desiste fácil; sofre, e, naturalmente, não tem motivação alguma no que faz, porque o que faz não o motiva. E não adianta ganhar bem: o sujeito sai de casa como um condenado sai para a forca. Compra tudo o que o dinheiro permite, mas continua infeliz. Jesus Cristo dizia que onde “está o teu tesouro, ali estará o teu coração”. Paixão, tesão, garra, dedicação, são palavras relacionadas a esportistas, exemplos simples de motivação (alvo, preço, esforço e persistência). É isso que uma pessoa motivada tem, mesmo sendo um sedentário como eu.

Então uma pessoa motivada não depende de ninguém para encontrar sua felicidade. Claro que precisamos dos outros, a felicidade não é uma coisa mesquinha, individualista, mas o caminho é uma luta individual. Uma pessoa motivada pode ser influenciada por outra para encontrar seu caminho; pode se inspirar em outras para aprimorar-se em busca dos seus objetivos. Mas o objetivo dessa conversa toda é desmistificar essa confusão toda que se faz quando o assunto é motivação.

Um líder precisa saber diferenciar motivação, influência e inspiração, para poder influenciar e inspirar no momento certo; não desperdiçar energia tentando motivar seus liderados, porque isto ele jamais conseguirá. E principalmente, não desperdiçar dinheiro da empresa tentando motivar sua equipe com salários. Calma: não sou contra aumentar salário, eu também sou assalariado. Apenas entendo que isto deve ficar por conta da política salarial da empresa. Descubra o que motiva as pessoas, influencie, inspire e alcançará seus objetivos pessoais, de equipe e corporativos. Todos serão felizes para sempre e talvez, de quebra, ainda consigamos salvar o mundo.

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